quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Taxista Anônimos (TA)

"Uma a uma, as pessoas da reunião levantam-se para dar seus depoimentos.

Sou taxista há 24 anos (faz uma pausa, pensativo). Eu era um jovem normal, um adolescente cheio de planos, sonhava em ser desenhista. Cheguei a trabalhar com desenho. Diziam que eu tinha talento, um bom traço, criatividade. Um futuro pela frente.
Não sei como é que acabei caindo nessa. Talvez tenha sido influência do meio onde fui criado – vários casos de taxistas na família – ou as companhias erradas, as más influências, não sei. Acho que isso agora não vem ao caso. O fato é que acabei deixando de lado essa minha veia artística e virei um taxista.
Tudo começou com uma folga ou outra no táxi do meu pai. Uma trabalhadinha aqui ou ali, para arranjar grana pra balada. Logo não me contentava apenas em tirar as folgas de outros taxistas, queria um táxi só para mim. Quando ficava sem trabalhar na praça, sentia-me angustiado, tenso, irritadiço (síndrome da abstinência). Largar o trabalho de desenhista foi o próximo passo.
Acabei virando um taxista em tempo integral. Vendi tudo o que eu tinha, pedi dinheiro emprestado, só faltou me prostituir para comprar meu próprio táxi. Consegui. Tornei-me um taxista de verdade.
Passava dias e noites trabalhando. Quase não aparecia em casa. Muitos amigos me abandonaram quando souberam que havia me tornado um taxista. Passei a ser visto com maus olhos.
Com o dinheiro do táxi comprei de tudo, desde roupas até minha casa própria. Tornei-me dependente completo da profissão. Cheguei ao fundo do poço. Agora estou procurando ajuda para largar o vício. Sei que não é fácil. Sei que é preciso evitar sempre a primeira corrida. Precisamos ser fortes!
A reunião dos taxistas anônimos termina. Todos se cumprimentam e deixam a sala, dispostos a manterem-se longe dos taxímetros"